Bolsonaro faz ato pró-Guedes, mas governo e Congresso rejeitam ministro

A ala política do governo indica que a demissão do ministro seria uma possibilidade para dividir o Ministério da Economia em outros 2: o do Planejamento e o da Fazenda, como era antes do governo Bolsonaro.




Política

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) fez um ato de desagravo para Paulo Guedes, com uma visita pessoal ao gabinete do ministro da Economia nesta sexta-feira, 22. Trata-se de uma atitude para evitar um eventual desembarque conflituoso do ainda principal assessor que permanece no governo desde a posse em 1º de janeiro de 2019.

Bolsonaro não vai demitir Guedes. É grato ao ministro pela fidelidade e pela adesão que recebeu do economista da escola de Chicago ainda na campanha de 2018. Mas o presidente sabe que a imensa maioria de seus ministros consideram que o ciclo de Guedes está esgotado dentro do governo.

O chefe do Executivo resiste à saída do chefe da Economia por temer que esse processo seja traumático. O Poder360 apurou que, nos bastidores, porém, integrantes do governo deixam clara a opinião de que Guedes deveria sair. A saída do ministro é avaliada como uma questão de tempo dentro e fora do Executivo.

A ala política do governo indica que a demissão do ministro seria uma possibilidade para dividir o Ministério da Economia em outros 2: o do Planejamento e o da Fazenda, como era antes do governo Bolsonaro.

Depois da debandada de 4 secretários do Ministério da Economia, o ministro Paulo Guedes teve sua permanência no cargo mais uma vez questionada nesta 6ª feira. A reação negativa do mercado às demissões e à possibilidade de mudança na regra do teto de gastos pesou para a especulação.

O site Poder360 apurou que Bolsonaro demonstrará —pelo menos publicamente— seu apoio irrestrito a Guedes. Isso não significa, contudo, que a situação está pacificada. Apurou ainda, que nenhum ministro defende Guedes nos bastidores. Em público, todos mantêm as aparências. Acham que o ministro da Economia gastou toda a sua cota de errar na condução política das pautas do governo. O caso do auxílio emergencial somado ao novo Bolsa Família, num valor de R$ 400, seria algo justificável se bem-trabalhado com antecedência.

Guedes afirma a interlocutores que ainda tem uma missão a cumprir no ministério e diz que tem respaldo de Bolsonaro, o que o motiva a seguir no cargo. O ministro diz ainda que tem apoio de alguns integrantes do alto escalão. Mas, fato é, todos os chefes de pastas desejam sua saída.

Guedes deixou o tema solto e permitiu que prosperasse a narrativa de adversários do governo no mercado, na mídia, no Congresso e até dentro da administração federal. Quando deu a entrevista, nesta semana, falando da necessidade de um “waiver” (licença) para gastar cerca de R$ 30 bilhões fora do teto, causou grande decepção nos principais aliados de Jair Bolsonaro.

Guedes não tem uma leitura clara do que se passa. No seu entendimento, quando foi para a reunião anual do Fundo Monetário Internacional, em Washington, na semana passada, teria deixado um vácuo para o que chama de “ala política” torpedeá-lo internamente aqui no Brasil. O ministro enxerga seu colega de Esplanada Onyx Lorenzoni (ministro do Trabalho e Previdência) como o principal articulador da sua eventual saída.

Guedes é um dos assessores presidenciais que mais sabe detalhes de toda a campanha e depois do governo bolsonarista. E o próprio presidente vê Guedes com um auxiliar fiel, que este sempre ao seu lado. Quando Sergio Moro pediu demissão do Ministério da Justiça, Guedes recebeu um telefonema do tucano João Doria, sugerindo que ele saísse também para derrubar o governo. O ministro rejeitou a proposta de Doria e contou a história para o presidente e para a mídia.

Há pelo menos duas semanas nomes têm sido sondados para eventualmente substituir Paulo Guedes. O economista-chefe do banco BTG Pactual, Mansueto Almeida, é um deles.

Outro fato intriga ainda a todos: como e quando Guedes vai ao plenário da Câmara explicar o funcionamento de sua offshore nas Ilhas Virgens Britânicas. Arthur Lira ainda não marcou a data, mas isso deve acontecer nas próximas duas semanas. Se o depoimento de fato ocorrer, o ministro será trucidado por perguntas de deputados de oposição.

Agora, tudo depende de Paulo Guedes pedir demissão. Se o ministro tomar a iniciativa, Jair Bolsonaro aceitará imediatamente. Mas nunca vai partir do presidente a decisão de remover o ministro.

Matéria do Poder 360