Pronunciamento de Lula: “O país está sem governo.”

O ex-presidente adotou tom pouco mais conciliador, evitou se apresentar como candidato. Mas dirigiu fortes ataques ao Governo Bolsonaro.




Política

O ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), realizou no final da manhã desta quarta-feira, 10, o primeiro pronunciamento após a anulação de suas condenações. A fala aconteceu no berço político do petista, a sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC Paulista, em São Bernardo do Campo. Lula estava rodeado de figuras emblemáticas ao contexto político recente, Fernando Haddad (PT), Guilherme Boulos (Psol), Gleisi Hoffman (presidente do PT), além de Iago Montalvão, do presidente da Une (União Nacional dos Estudantes).

A declaração durou cerca de uma hora e meia, e Lula usou a maior parte do tempo para agradecer àqueles que lhe expressaram solidariedade durante o período de reclusão. Agradeceu aos movimentos sociais, aos partidos que o apoiaram. Além, de líderes externos, como Alberto Fernandez (Argentina), Pepe Mujica (Uruguai), Barnie Sanders (EUA), dentre outros. Se emocionou sempre que citou a vigília que havia sido feita em Curitiba, quando estava detido na sede da Polícia Federal.

Lula classificou o seu processo jurídico como como a maior mentira já contada em 500 anos. Nessa linha, afirmou gratidão aos seus advogados, a equipe de defesa do político é chefiada por Cristiano Zanin.

O ex-presidente também fez questão de dizer que pela primeira vez a verdade havia prevalecido. Nessa linha, ele criticou o trabalho da imprensa durante a cobertura de seu processo judicial. Em seguida classificou parte das notícias veiculadas ontem, 09, como históricas; afirmou, ainda, que espera que aquele seja o novo padrão jornalístico adotado pela mídia nacional.

Coronavírus

Lula abordou o atual momento da pandemia de Covid-19. O político fez duras críticas à gestão pandêmica conduzida pelo Governo Bolsonaro. Disse enfaticamente que a população não deve seguir as recomendações vindas do presidente ou de seu ministro da Saúde. Segundo Lula, as orientações que eles apresentam são absurdas.

O ex-presidente abordou, também, a vacinação, dizendo que se trata de uma questão de amar a vida ou a morte. Nesse segmento, lembrou da necessidade de valorização do Sistema Único de Saúde (SUS). Citando, ainda, os profissionais de saúde, que classificou como indispensáveis.

Lula disse que o país está desgovernado. Afirmou que era urgente que no início da situação de pandemia o executivo federal tivesse criado um Comitê de Crise. Comitê que teria papel de conduzir orientações e aglutinar informações sobre a pandemia de modo integral.

O petista disse que a vacinação deveria ser intensificada o quanto antes. Falou que em breve será vacinado. O ex-presidente tem 75 anos e em São Paulo está parte do público deve ser imunizado nos próximos dias.

Bolsonaro

Como era esperado, Lula direcionou fortes ataques ao governo Bolsonaro. O político endossou repetidas vezes que o país está sem governo. Disse, ainda, que o atual presidente é incapaz para ocupar o cargo, que ele não sabe os métodos de governabilidade, pois não dialoga com os setores econômicos do país. Classificou-o, em suas palavras, como um fanfarrão.

Lula disse que é preciso agir para o executivo federal compreenda que o Brasil não será entregue à milicias. Repetiu, mais de uma vez, que é incompreensível que, em um momento tão crucial para manutenção da vida, o presidente se empenhe mais em atuar para liberação de armas do que para comprar vacinas.

Em momentos bastante inflamados, o político declarou que é preciso agir para que o atual presidente não se mantenha seguidamente ocupando o assento da presidência. Lula foi enfático ao lembrar da necessidade de políticas assistenciais, nessa linha, falou da ingestão do governo para aprovação de uma nova leva de parcelas do Auxílio Emergencial.

Sérgio Moro

Com relação ao ex-ministro da justiça, e juiz que o condenou nos processos do triplex e do Sítio de Atibaia, Sérgio Moro, Lula declarou que seguirá buscando que Moro seja declarado suspeito. Disse, ainda, que a Lava Jato desapareceu da sua vida.

Candidatura 2022

Durante todo o discurso, em nenhum momento, ele afirmou objetivamente que seria candidato. Porém, em vários instantes deixou claro o interesse em rodar o país discutindo questões de relevância nacional. Quando questionado se será candidato, endossou que as lideranças do partido irão também percorrer o país, citando nominalmente os nomes de Fernando Haddad e Gleisi Hoffman. Em seguida ponderou que o nome do partido, ou de uma frente de esquerda, será definido somente em 2022.